quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Bonds X Bonds Funds

Uma dúvida interessante foi suscitada por um cliente.  Nada melhor do que utilizá-la para encher linguiça num blog que está há tanto tempo sem atualizações...

O que seria melhor - seja em termos de risco ou em termos de retorno - investir em bonds diretamente ou através de um mutual fund?

Explico a pergunta.

Supondo duas carteiras idênticas de bonds, a primeira adquirida diretamente por um investidor em sua conta corrente, e a outra através da aquisição de shares de um mutual fund. Será que o veículo “fundo” poderia causar uma subtração no retorno esperado, ou um incremento no risco do investimento? 

Refiro-me a duas carteiras idênticas, e o risco estaria associado não aos investimentos em si, mas à forma como o instrumento é estruturado.  

Muitos investidores consideram o investimento direto em bonds mais aconselhável, pois num momento de crise e de aversão a risco (ex. mutual fund de high yield) ou no caso de uma escalada na taxa de juros, o fund manager terá que fazer frente aos saques em seu fundo, tendo que vender ativos a preços mais baixos e realizando o prejuízo na cota (NAV), enquanto que o investidor que possui bonds diretamente teria a opção de segurar os papéis até o vencimento e não realizar uma perda de capital. Será este raciocínio correto?

A resposta, num “economês” claro, como de praxe é: DEPENDE.

Realmente existe um consenso no mundo dos planejadores financeiros de que ter bonds em uma carteira pessoal é menos arriscado. Vide entrevista abaixo da famosa guru Suze Orman:

http://www.bing.com/videos/watch/video/suze-orman-bonds-yes-bond-funds-no/3xrgp7hq

Por outro lado, do ponto de vista técnico e acadêmico, no que tange o yield ou o risco em questão, não existirá diferença alguma (a priori, pois mais a frente exploraremos um pouco mais este assunto) entre uma carteira individual e um fundo, independente dos resgates que o gestor do fundo possa enfrentar.

O erro clássico dos investidores individuais e que precisa ser corrigido, é o costume da não marcação a mercado. O mundo de “não marcação a mercado” infelizmente não existe. A “Chapeuzinho Vermelho” chega a ser mais real do que isso...

Supondo uma elevação na taxa de juros, tanto a carteira individual quanto a carteira de um fundo sofrerá a mesma perda de capital (mark-to-market). Essa perda de capital é necessária para equilibrar a taxa de juros no momento da emissão dos bonds com a taxa de juros nos momentos subsequentes. Quanto menor o valor de mercado do papel, maior será o juros implícito após sua aquisição, e o mercado se equilibra desta forma. Simples assim.

O investidor pensará: “Mas eu tenho a opção de não vender o papel após esta queda no preço, não realizando assim a perda de capital!”. Desculpe meu querido, você está errado.

Se você decidir vender o papel e realizar esta perda, será compensado por sua nova aquisição, que renderá um cupom maior - nos patamares da nova e mais alta taxa de juros - do que o seu papel anterior. No final das contas, o investidor racional deveria ser INDIFERENTE entre vender o papel atual com cupom mais baixo e comprar uma nova emissão com cupom mais alto (ou outra emissão antiga, mas com o preço também atingido pelo novo patamar de juros) ou segurar o papel até o vencimento.

Desta forma, tudo mais constante, o NAV do fundo cairá na mesma proporção da carteira individual, e mesmo se houverem resgates no fundo e o gestor vender as posições com prejuízo, não haverá diferença alguma no yield esperado do fundo (assim como no yield esperado da carteira individual), pois de qualquer forma o NAV já está sendo marcado a mercado, independente dos resgates ocorrerem ou não. O fundo está simplesmente diminuindo seu AUM e o gestor do fundo ficará um pouco mais pobre (ou menos rico, olhe o copo como quiser).

O erro do investidor individual é achar que segurar os papéis até o vencimento é o que garante o seu yield.  Entretanto, a partir do momento em que o investidor consegue entender que o seu yield será sempre igual, seja na venda dos papéis e aquisição de novos papéis, seja na manutenção dos papéis atuais, perceberá que a forma como o fundo é estruturado não prejudica o seu investimento.
                                                                     
Se o investidor racional deveria ser indiferente, por que tantos preferem manter o papel até o vencimento e não realizar o prejuízo? Behavioral Finance explica: a sensação de perda de capital no presente é suficientemente grande para evitar a venda deste papel, ignorando assim o custo de oportunidade do mercado (vide os famosos axiomas de Zurich, uma aula clássica de behavioral). De qualquer forma, concordo que muitos preferem manter o papel em carteira para não incorrer em custos de corretagem.

Se eu parasse por aqui, já seria suficiente. Mas por que não aproveitar e cutucar um pouco, com uma boa polêmica, aqueles que preferem as carteiras individuais? E se eu afirmasse que segurar o papel após uma queda incorreria num aumento de risco da carteira?

Em primeiro lugar, precisamos entender os riscos inerentes à aquisição de bonds. São muitos, mas vamos focar num dos mais importantes, conhecido como duration.

Matematicamente, duration é a soma dos valores presentes do fluxo de caixa de um determinado papel, ponderado pelo período de cada fluxo, e dividido pelo valor presente do título.

Se você estiver sem saco de fazer a conta, pense ao menos no racional que está por trás: Você acaba de fazer dois empréstimos diferentes, para dois devedores com o mesmo risco de default. Se o risco é igual, vamos supor que a taxa de juros que você está cobrando também é igual, de 10% a.a., por exemplo.  No entanto, um mutuário lhe pagará o principal e o juros apenas no final de um ano, e o outro lhe pagará metade dos juros após 6 meses e a outra metade no final de um ano, junto do principal.

Qual dos dois empréstimos é o mais arriscado, considerando que os mutuários possuem o mesmo nível de confiabilidade em relação ao cumprimento do contrato?

Simples: O empréstimo em que existe um pagamento semestral é menos arriscado porque o devedor lhe adianta uma parte dos juros antes do outro devedor. Se o risco de não recebimento se dá por eventos aleatórios que possam ocorrer na vida dos devedores, então quanto menor o tempo entre a concessão do empréstimo e o recebimento do dinheiro, menor a probabilidade de um evento aleatório atrapalhar a vida do devedor, e mais seguro é este empréstimo. Isso sem falar no custo de oportunidade deste dinheiro no tempo. Time is Money, e esse dinheiro trabalhará para você, e não para o mutuário, durante 6 meses.

Duration é simplesmente a fórmula matemática criada por Macaulay para medir este fluxo de caixa ponderando pelo período em que os recursos serão recebidos pelo investidor. Em termos de bonds, quanto maior a periodicidade de pagamento de juros do papel, menor será seu duration, e menor será o risco inerente a este bond. Pronto, está criada uma fórmula de se medir o risco associado a este investimento.

Em termos práticos, um bond que não paga cupom, terá o seu prazo confundido com o seu duration. Ora bolas, se não há pagamento de juros intermediário, apenas no vencimento, então o prazo médio de recebimento nada mais é do que o prazo do papel. Um bond zero cupom de 2 anos possui o prazo de 2 anos e o seu duration também  é de 2 anos. Já um papel com cupons semestrais, terá um duration necessariamente menor do que 2 anos, e assim podemos facilmente comparar os riscos.

Melhor do que isso, de brinde, ganhamos outras interpretações para o duration. Como por exemplo, a “sensibilidade em relação a uma mudança na taxa de juros”. Se sabemos que os papéis se elevam quando a taxa de juros cai, e se depreciam quando a taxa de juros sobre, quanto maior o fluxo de caixa antecipado, menor será a influência de uma mudança na taxa de juros sobre o preço do papel. Um duration de 4,5 também pode significar que uma elevação de 1% na taxa de juros fará com que o papel perca 4,5% do seu valor de face, por exemplo.  Mas isso é uma estimação, pois o modelo considera uma curva de juros flat, o que não é necessariamente verdade. Mas este é outro assunto, que se abordarmos agora esse texto ficará muito mais longo e não terei tempo de brincar com a minha filha Libbi.

Bom.

Entendido o conceito de duration, volto a afirmar: segurar até o vencimento um papel que se depreciou devido a uma mudança na taxa de juros pode causar uma exposição ao risco maior do que trocá-lo por um papel com cupom maior. Veja a tabela abaixo:





Fluxo de Caixa
VP Fluxo de Caixa
N
Juros
Mercado
YTM
0
1
2
3
4
VP1
VP2
VP3
VP4
0
3%
100
3%
-100
3
3
3
103
2,91
2,83
2,75
91,51
1
3%
100
3%

-100
3
3
103

2,91
2,83
94,26
2
4%
98
4%


-98
3
103


2,88
95,23
3
5%
98
5%



-98
103



98,10













2
4%
98
4%


-98
3,9
101,9


3,77
94,23

No exemplo temos um papel de $100 com cupom de 3% (e a taxa de juros de mercado também era 3% na emissão, obviamente). Conforme o tempo passa, vocês verão que no momento 2 (na primeira linha em amarelo) suponho que a taxa de juros de mercado sobe para 4%. Neste caso, o preço do papel cairá para $98 e o seu novo YTM será necessariamente 4%. Bom, temos agora duas opções:

1.       Segurar o papel até o vencimento;
2.       Vender o papel e comprar outro com cupom de 4%;

A opção 1) está retratada no primeiro quadro, até a linha onde N=3, e coloco a opção 2) retratada na linha em amarelo na parte de baixo, onde N=2. Vejam que interessante: Se olharmos o VP do fluxo de caixa das duas opções no N=2, veremos que apesar de sua soma ser igual, ou seja, $98 (que se confunde obviamente com o preço de mercado do papel), temos no VP3 um valor maior para quem decidiu vender o papel antigo e comprar um novo.

Ora bolas, um VP3 maior significa uma antecipação de caixa, o que significa por sua vez uma diminuição do risco (leia duration). Mas por que isso acontece?

O motivo também é simples: comprar um novo papel com cupom maior do que o anterior fará com que você receba um fluxo de caixa mais “antecipado”. No final das contas o YTM será o mesmo, no entanto, o YTM não pode se confundir com o fluxo de caixa.

Chegamos então à conclusão de que, ceteris paribus, é melhor antecipar o caixa e não esperar que seu YTM seja composto por um grande recebimento de capital apenas no vencimento.

Obviamente, em muitos casos, dependendo do montante, essa diferença pode ser mínima. No entanto, no longo prazo e para montantes maiores, a diferença pode ser relevante. Certamente os custos de corretagem também devem ser considerados.

Este ótimo artigo que encontrei no Seeking Alpha explica bem este conceito em outras palavras: http://seekingalpha.com/article/1050121-are-bonds-funds-riskier-than-bonds-yes-and-here-s-why

Infelizmente li muita coisa na internet que não concordo.

Por exemplo, um artigo no Investopedia (aliás, adoro o site!) em que diz que você não corre o risco da taxa de juros numa carteira individual ao segurar o papel até o vencimento. Isso se chama “não marcar a mercado”, o que é um absurdo para um site tão bom quanto o Investopedia.

Além disso, também escrevem a besteira de que se você segura o papel até o vencimento isso diminui seu risco de liquidez, pois você não precisará vender o papel, o que incorreria no risco de liquidez caso o papel esteja num momento ruim ou seja ilíquido mesmo. Isso é um absurdo, pois o risco de liquidez é evitado comprando ativos líquidos, e não deixando de vender ativos ilíquidos. Para um bom entendedor, paro por aqui.

Infelizmente também achei outras porcarias, como neste artigo:

Vejam o que esse tal Cohen afirma:

In a risky rate environment, Cohen says that investors should look to individual bonds. If you buy individual bonds, even at low interest rates, you will get your money back if the company stays liquid, she says. With a bond fund, that is not true. Cohen worries that if rates spike or there's a big default, investors will start selling their bond funds. That will lead to more selling, and fund managers will need to sell bonds at lower prices to raise cash to pay off departing investors. During the two weeks ending November 24, as rates started to rise, investors pulled $6 billion from bond funds”

Marquei em negrito os erros principais, e nem preciso explicar o motivo da falha de raciocínio, tudo já está supra explanado.

Um ponto importante a favor dos fundos é a diversificação. Vejam como Cohen aconselha seus investidores:

“On the top of her list: Diversify your bond holdings. No issuer should account for more than 3% to 5% of an entire bond portfolio. That means you need a minimum of 20 different issues. Limit holdings of any single industry for corporate bonds, and of any geographic area for municipal bonds, to 15%. Only buy non-callable investment-grade corporate bonds, very safe municipal bonds and Treasuries.”

Querido Cohen, você que é grande defensor de carteiras individuais, como ter 20 papéis diferentes se atualmente o mercado corporativo de bonds opera muitos papéis com mínimos de $100k ou $200k??? Se você estiver lidando com investidores com $40 milhões de dólares disponíveis, tudo bem...

Ao comprar shares de fundos você terá uma exposição a centenas, para não dizer milhares de empresas. Há diversificação melhor do que essa? Os fundos famosos como Fidelity e Pimco carregam 400-700 empresas em suas carteiras. Não há discussão, ponto fortíssimo para os fundos.

Encontrei este artigo na Forbes  (
http://www.forbes.com/2003/06/06/cx_mb_0606bonds.html
) que diz que atualmente você consegue diversificar muito bem sua carteira individual pois é fácil encontrar papéis por $1.000 cada. Bom, isso não existe no mercado internacional de bonds. Talvez no mercado doméstico americano, mas desconheço esse mercado para opinar, e não acredito que seja a realidade para os investidores brasileiros, ou para aqueles que querem explorar outros mercados e não ficarem presos ao mercado americano.

Este artigo também fala que existe uma vantagem incrível de ter carteiras individuais: se os juros caírem você poderá vender com ganho e botar dinheiro no bolso! Uau! E os managers dos fundos, cheios de planilhas de Excel e conectados 24h por dia no Bloomberg, por acaso não fazem isso quando necessário? Não entendi. Desculpe Forbes, você é muito boa para ranquear os mais poderosos do mundo, mas nessa dica você não mandou bem.

O ponto principal que deveria ser levantado como favorável à carteira individual não é a diminuição de risco, e sim a previsibilidade de seu fluxo de caixa. Isso é bem explicado neste bom artigo do Seeking Alpha: http://seekingalpha.com/article/989621-are-bond-funds-riskier-than-bonds

Na realidade, imagino que todos os defensores de carteiras individuais, inclusive a guru Suze Orman, estavam se referindo a esta vantagem de controle do fluxo de caixa. Mas infelizmente escorregaram em suas palavras.

Se você é do tipo de investidor que precisa utilizar os juros no seu dia-a-dia, ou já se programou para comprar um carro assim que o bond vencer, então realmente o fundo não será a sua melhor opção. O fundo não tem data maturação (a maioria, existem poucas exceções) e mesmo que alguns paguem dividendos, o valor é estimado e não totalmente previsível.  

Então é simples: investidor que precisa de um fluxo de caixa bem definido e previsível, escolha a carteira individual. Investidor que não precisa de fluxo de caixa, ou mesmo que precise de fluxo de caixa, mas que não precisa que este fluxo seja previsível, prefira os fundos, que possuem liquidez diária e o investidor pode resgatar quando quiser e montar o seu fluxo “menos previsível”.

Com relação a questão de que fundos não possuem maturação, li um ponto importante a ser lembrado, num artigo bem interessante e completo (http://www.bogleheads.org/wiki/Individual_Bonds_vs_a_Bond_Fund)
Outra interpretação para a afirmação de que “um fundo não tem data de maturação” pode ser explicada pelo fato de que o fundo possui um duration constante. Os fundos normalmente são atrelados a alguma proposta específica de duration, para que o investidor saiba razoavelmente o risco inerente a este fundo em termos de taxa de juros. Conforme os papeis do fundo vão vencendo, o fundo necessariamente terá que comprar novos (ou vender os atuais antes do vencimento) para manter o duration da carteira no nível que ele está comprometido. Sendo assim, o duration sempre será aproximadamente igual, e a carteira vai “empurrando” a maturação para sempre.

Levando isso em consideração, uma carteira que mantem seu duration constante (muitos investidores possuem esta estratégia como forma de ajuste de seu yield) possui exatamente a mesma característica (e risco) de um fundo. Ou seja, comparar um fundo com duration constante e uma carteira individual com duration decrescente é comparar maça com banana.

Ainda sobre a questão do duration, o artigo do site Bogleheads retrata uma análise acadêmica interessante, onde existe a visualização contínua de se ter em mãos sempre a opção de comprar um bond zero cupom. Essa análise facilita o entendimento de por que é melhor comprar shares de fundos e não bonds diretamente. Resumindo, ele explica que se você possui uma obrigação no futuro, o único investimento que lhe garante o recebimento do valor esperado é a aplicação num zero cupom, ou a aplicação em fundos ou bonds que pagam cupons, mas com o balanceamento constante para que o maturity sempre coincida com o duration. Vale a pena conferir dentro.

Para concluir o texto, que já está enorme, vou tentar resumir abaixo as vantagens de se ter uma carteira individual x bonds funds.

Vantagens de se ter um mutual fund:

1)      Diversificação: não esqueçam que no mercado de crédito é MUITO importante a diversificação, mais do que a diversificação no mercado de ações, por exemplo. No mercado de ações, a diversificação também é importante, mas possui um limite, e o investidor racional também poderia optar por concentrar em busca de um ganho exponencial. No entanto, no mercado de crédito (salvo o mercado “distressed”), se você se concentrar em um papel estará sendo irracional, pois não terá um ganho exponencial mas em contrapartida um risco absurdamente maior. Isso vale para 100 papéis assim como para 1.000, quanto mais papéis você tiver na carteira, menor o seu risco, e o yield se manterá (supondo a compra de papéis com um rating específico). No mercado de ações, estudos dizem que a partir de 8 papéis o efeito da diversificação já é desprezível. O Rei Salomão também diz isso no Velho Testamento, mas isso é outra história;

2)      Lastro para linha de crédito no banco: Para quem gosta de alavancar, os bancos dão lastro de até 70% em cima de mutual funds, enquanto que para papéis de high yield, por exemplo, o banco não te dará um centavo de dólar;

3)      Reinvestimento dos cupons: Para quem não precisa utilizar o fluxo de caixa, um grande problema é o que fazer com esse dinheiro de sobra. Muitas vezes é tão pouco que não é viável outro investimento, além da inconveniência de se preocupar com isso constantemente. No fundo esse problema não existe. Isso no longo prazo pode fazer uma diferença imensa. Conforme citado por Fabozzi no seu Handbook of Fixed Income Securities, num cenário de taxas de juros altas, os juros sobre os juros, ou seja, a forma com que você irá investir os juros recebidos, no longo prazo, pode responder por até 70% do retorno potencial total da carteira. Pense nisso;

4)      Liquidez: nem todos os papéis que você deseja comprar possuem liquidez. Em contrapartida o fundo terá liquidez diária e não deixará de entrar em alguns papéis menos líquidos. Você ganha o prêmio pela iliquidez de alguns papéis sem pagar por ela. Não obstante, quando você possui um fundo, o que está contra você é apenas o risco de mercado (sistêmico). No entanto, se você possui uma carteira individual, você está exposto ao risco individual de cada companhia. A qualquer momento que você precisar de liquidez, se as corporações de sua carteira estiverem com algum problema individual, você sofrerá na venda. No fundo você pode resgatar a qualquer momento e os problemas individuais de cada companhia não prejudicarão a sua liquidez. Isto está ligado também ao conceito de diversificação, mas do ponto de vista da liquidez;

5)      Spread: o mercado de bonds não é organizado, e suas negociações são do tipo OTC (balcão). Neste mercado os brokers cobram altos spreads para realizar o serviço de compra e de venda de bonds. Quanto menor seu tamanho, maior será o spread pago. Um fundo de 15 bilhões de dólares compra 10 milhões de dólares facilmente em uma posição, e consequentemente o seu spread será menor;

6)      Gestão Profissional: Obviamente é muito mais indicado você gastar seu tempo em seu negócio do que pesquisando empresas de cimento na Indonésia. Gestores profissionais fazem isso por você por um preço banal, e investigam conceitos que você provavelmente nem sabe que existem.  Não só isso, fazem o monitoramento diário de todos os papéis. Saiu uma notícia do Cruzeiro do Sul ou do Panamericano eles estarão vendendo na hora o papel. E você? Provavelmente estará no banheiro ou assistindo o CQC. Ainda mais se você for inteligente o suficiente para diversificar sua carteira individual com 20 papéis diferentes, como terá tempo de acompanhar 20 empresas? Isso já é muito trabalho para um analista que faz isso durante 12 horas todos os dias. Este item inclui também a decisão de tomar o movimento certo na hora certa, como falamos anteriormente, muitos investidores acreditam que segurar o papel até o vencimento sempre é a melhor opção, mas isso pode não ser verdade;

7)      Custos: o custo de um mutual fund varia de 0,5%-1,5%. Se é caro ou barato, depende de qual é a proposta do fundo. Quanto maior alpha o fundo gerar, mais direito ele terá de cobrar por isso. Mas não faltam fundos “beta” com taxas de 0,5%, que para todos os benefícios do fundo, é irrelevante. Lembre que na carteira individual você também paga corretagens e spreads altíssimos considerando que seu volume de negócios é bem menor. No final das contas, pode ser que fiquem elas por elas. Confesso que o benefício do fundo é tão gigante em relação à carteira individual que não fico perdendo tempo com estes trocados;

Vantagens de se ter uma carteira individual:

1)      Custos: Pelo menos você terá a sensação de que não está pagando o salário de um profissional que joga golfe duas vezes por semana;

2)      Previsão e Controle sobre o fluxo de caixa: Como falado anteriormente, esta é a grande vantagem da carteira individual. Por esse motivo, não há resposta certa, cada um é cada um, e você escolhe o melhor de acordo com suas necessidades;

3)      Risco do Gestor: Se você compra uma carteira individual, teoricamente terá controle sobre o que está fazendo. Você não pode ter controle sobre o que um gestor de fundos fará. No entanto, esta desvantagem, em minha opinião, pode ser diminuída ao comprar gestores com um bom track-record, e sempre comprar alguns fundos e não apenas um;

Observação:

Qualquer análise de benefícios de impostos está sendo desconsiderada neste texto, pois estamos supondo um investidor que possua estrutura offshore, seja fundo de investimento, seja companhia, e neste caso o imposto é postergado seja no caso de fundo, seja no caso de carteira individual.





sábado, 6 de outubro de 2012

Piadas Sem Graça 2

1. O que se como quando se está perdido?
R: Rumus

2. Qual o mês em que as mulheres ficam mais "nidá*"?
R: Elul*, pois é o mês "truada*".

3. O que o banheiro estrangeiro disse para o vaso?
R: "Vaso" daqui, este local é "privada"!

4. Qual a comida que te deixa mais chateado?
R: A cebola. Porque se come, se bola.

5. Qual a doença que mais afeta o ser humano?
R: A afta.

6. Quem os mortos gostam mais de comer?
R: A mortadela.

*
"nidá" = menstruação em hebraico;
"Elul" = mês judaico em que se toca o shofar (instrumento de sopro);
"truada" = truá, um dos toques do shofar;

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Piadas Sem Graça 1

Eu sei, estas piadinhas são horríveis e sem graça!

Mas justamente por este motivo vou começar a postá-las aqui, pois preciso registrar algo tão ruim para que possamos dar mais valor as coisas boas do mundo!

1. Qual o país com o maior Bnei Akiva do mundo?
R: Espanha, pois lá tem muito Madri.

2. Qual o país com o maior número de casais do mundo?
R: França, pois lá tem muitos Pares.

3. Qual o país mais iluminado do mundo?
R: Portugal, pois lá tem Luzboa.

4. Qual a única mitsvá que o diabético não pode cumprir?
R: A suká.

5. Qual o mercado mais difícil de se escolher o que comprar?
R: O mercado de opções.

6. Qual a sopa mais famosa do mundo?
R: Marak Obama. (autoria de Leo Majowka)

Chega por hoje!!!!

Sim, são de minha autoria, infelizmente tenho esta síndrome dos trocadilhos. Não é fácil conviver com ela. Obrigado aos meus amigos por me suportarem.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

OLHE! CHADASH!


Texto escrito para a Revista do FCRJ:

Fizemos Aliá há cinco meses, eu, minha esposa e minha filhinha. Nenhuma mudança é fácil, ainda mais quando não se sabe ao certo onde se irá morar, qual será seu novo trabalho, como será sua nova rotina. Quem gosta de sair da rotina, a não ser para tirar um dia de folga ou fazer uma boa viagem? Não gostamos de mudanças, e é por isso que quando se decide algo neste âmbito ou você está num momento de loucura, ou está muito convencido a respeito.

As pessoas ao meu redor, até hoje, parecem estar na dúvida de qual corrente eu e minha família pertencemos, se a dos “enlouquecidos” ou a dos “convencidos”.

Eu lhes respondo: fazemos parte das duas correntes.

Estamos enlouquecidos de amor pela Terra que nos foi prometida há mais de 3 mil anos, e que como num passe de mágica trouxe de volta milhões de judeus espalhados por todo o planeta. Estamos enlouquecidos de prazer ao escutar nas ruas o idioma que ressurge em nosso dia-a-dia após milênios de desuso. Loucamente apaixonados por sermos abordados no meio de uma tarde de compras na loja de departamentos Ikea: “Minchá será em 5 minutos na Sinagoga do andar debaixo”.

Não obstante, estamos convencidos de que não há lugar abaixo do céu em que um judeu conseguirá viver de forma plena, junto a seu povo, seguindo a filosofia de vida ensinada por Aquele que soprou em nossas narinas, nos concedendo a vida. Convencidos de que Israel é o único punhado de terra neste planeta em que um judeu pode realmente se sentir seguro... vide constantes atentados contra judeus ao redor do mundo e a quase inexistência dos mesmos em Israel... e quanto ao medo que sentimos ao sair pelas ruas da Cidade Maravilhosa após as 22h?

Enfim, convencidos e enlouquecidos estamos, felizes da vida, e gratos aos que contribuem com o desenvolvimento desta Terra, tão pequena de tamanho, mas tão grande em importância, mesmo para aqueles judeus que AINDA não vivem nela.

Aguardamos toda a Comunidade Judaica do Rio de Janeiro aqui em Israel. Sejam os “enlouquecidos”, sejam os “convencidos”, ou sejam os dois....

Que todos nós sejamos inscritos no Sefer Hachaim!

Kol Hakavod pelo trabalho maravilhoso no Rio de Janeiro!

quinta-feira, 1 de março de 2012

ROGÉRIO CHOR, e seus 10 Mandamentos...





Acima coloco foto do presente entregue a Rogério Chor antes de sair do escritório. Foram muito mais lições, mas tive que escolher apenas 10, e as coloquei na ordem do tamanho do impacto que me causaram:

1.       Não se comprometa com dívidas que não conseguirá pagar.
2.       Gritar com funcionários é humilhação. Eles não poderão revidar.
3.       Se o malandro soubesse como é bom ser honesto, o seria por malandragem.
4.       O cemitério está cheio de insubstituíveis.
5.       Encare obstáculos como se você fosse um trator.
6.       Relatório bem feito não precisa de explicação.
7.       Sempre proponha o dobro do que deseja.
8.       Em uma apresentação, pergunte sempre quanto tempo você terá para falar.
9.       Segredo que apenas um já sabe, não é mais segredo.
10.   Não faça “over” venda.




Mensagem ao Staff

Como este blog é meu, e decidi que um dos motivos de criá-lo seria para, de certa forma, compor um diário, insiro abaixo a mensagem que enviei ao staff que trabalhou comigo nos últimos anos. Estou de mudança para Israel, mas certamente as boas lembranças do ambiente de trabalho na Cidade Maravilhosa ficarão em minha memória....


Queridos Amigos,

Bom dia!


Quase saí para o trabalho hoje, mas quando liguei o carro lembrei que não havia para onde ir....rsrsrsrsr brincadeira! Estou aqui aproveitando a Libbinha em tempo integral!!!! Uma maravilha! 

Transcrevo um ditado clássico judaico: "Quem é o sábio? Aquele que aprende com todos." 

Subtende-se que sábio não é o auto-didata, mesmo que seja a pessoa com capacidade intelectual jamais vista, pois sempre estará limitado a sua consciência, e sim aquele que consegue aprender de tudo e de todos, pois certamente todas as criaturas possuem algo que mais ninguém no universo possui. Vocês já viram dois seres humanos, dentre os 7 bilhões existentes, com traços faciais exatamente iguais? Existem pessoas muito parecidas, às vezes irmãos, mas exatamente iguais???? Negativo. Não existe, e nunca irá existir.

Eu certamente levo esta lição para minha vida, não por ser sábio, longe disso, mas por acreditar realmente que, cada ser humano que cruza meu caminho, é sinônimo de uma oportunidade ÚNICA de absorver características boas.

Não tenho dúvidas de que estes últimos 3 anos e 6 meses de trabalho me foram decisivos em termos de crescimento pessoal e profissional.

Poderia redigir páginas e páginas sobre todos vocês, no detalhe, mas não lhes farei perder tempo com minhas palavras, e não correrei o risco de fazer elogios que não cheguem à altura do que todos merecem, então resumirei tudo em uma única sensação: HARMONIA.

Alguém lembra de fortes intrigas incitadas dentro de nosso "time"? Brigas, fofocas, ofensas, chateações???? Ao menos uma??? Por favor, alguém me faça lembrar! Não consigo lembrar! Umazinha....Vocês não lembram pois estas situações nunca existiram.

Óbvio que desentendimentos são normais. Em alguns momentos estamos mais estressados, noutros menos. Mas durante tanto tempo, uma equipe que consegue se relacionar de forma profissional e que ao mesmo tempo mantêm um intenso coleguismo, é de se impressionar, anda mais num ambiente de trabalho, que alguns pensam ser regido pela "lei da selva" e não por leis civilizadas.

Levarei comigo, para Israel, a lembrança e o aprendizado desta sensação incrível de harmonia profissional. Essa sensação com certeza não me fará pagar excesso de bagagem, pois é uma sensação muito "leve" e gostosa.

Peço um favor: em qualquer momento de forte stress, lembrem de contar os 10 segundos cruciais antes de falar qualquer palavra ofensiva, e com certeza este ambiente harmonioso será perpetuado. A compensação financeira é apenas consequência. Precisamos buscar lugares em que nos sintamos mais felizes antes de mais ricos. 

Enfim, "palavras que saem do coração, entram no coração", então com certeza do recado está entregue.

Este é meu e-mail pessoal, em seguida lhes enviarei meu telefone em Israel, pois ainda não o possuo. 

Não hesitem em me ligar, por favor, será um enorme prazer atender todos vocês.

Vamos manter contato, e se precisarem de algo que estiver a meu alcance, é só pedir.

Recebam meu abraço!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sim, são 2:10h AM...

O que me salva é o horário de verão, que termina hoje. Uma horinha a mais para compensar.

É isso mesmo. Dia 26/02/12, 2:10h da manhã e não estou deitado em minha cama.

Mas pior do que isso, estou ao lado de uma Coca-Cola “normal”. Normal entre aspas, é claro, pois obviamente não é normal tomar Coca-Cola às 2:10h da matina. Encare-a mais como uma companhia, entende? Não gosto do ficar sozinho na sala, no escuro... Quem gosta? Ganho a companhia dela e perco ainda mais o sono com a contribuição da nossa amiga cafeína, contida nesta bebida.

Ar-condicionado desligado. Estou na sala e o ar já está ligado no quarto. Um bom economista - para os convictos de que economista é aquele que ajuda as pessoas/empresas a economizarem – nunca deixa dois “ares” ligados ao mesmo tempo, concorda?

Conto-lhes o motivo de minha insônia. Ansiedade.

Sou muito, muito ansioso.

E ao bom ansioso, nunca faltarão argumentos para justificar sua ansiedade.

Estou tecnicamente desempregado, com mudança marcada para outro país dentro de aproximadamente 30 dias. Para piorar minha situação e empregabilidade, este país se chama Israel, e possui o maior número de engenheiros, empresários e doutorandos por metro quadrado.

Mas deixemos o assunto Israel para outro dia, quando estiver mais perto do “dia D” me mudar definitivamente (lendo rápido o trocadilho até que fica bacana vai... são duas da matina você não pode exigir muito) escreverei certamente a respeito.

Para hoje reservei outro assunto, um desabafo, que coloco num texto separado.

Boa noite!








DESABAFO: DEVEDinheiro

Já que estou de mudança para outro país resolvi levar comigo relíquias filmadas em VHS, de quando eu tinha 4, 7, 10 anos. São viagens, aniversários, Sedarim de Pessach, essas coisas de família. Valioso. Muitos que aparecem nos vídeos já não estão mais com a família - que suas memórias sejam abençoadas.

Não tenho mais nada que rode VHS, então decidi transformá-los em DVD.

Googlei “transformar VHS em DVD – Rio de Janeiro”, anotei uns 4-5 e-mails diferentes e pedi uma cotação. Escolhi o melhor custo x benefício.

Após alguns dias, me responde o transformador de VHS, por e-mail:

- Seus DVDs estão prontos, totalizaram R$210, acho que consigo lhe entregar no sábado.

Decidi ligar para perguntar se estava tudo certo com as imagens, combinar entrega e pagamento. Falamos sobre os vídeos e eu lhe disse então que pagaria 50% do valor naquele mesmo dia (antes mesmo da entrega) e mais 50% após conferir que todos os DVDs estavam gravados corretamente. Levei um susto ao verificar a reação do rapaz ao telefone:

- Como assim?? Não está confiando em mim??? Se quiser me pague tudo após você conferir os DVDs, já que não está confiando. Não quero que me pague nada agora. Trabalho há 10 anos neste mercado... BLÁ BLÁ BLÁ

Depois percebi que já escutei coisas parecidas em outras situações. Normalmente de pessoas mais velhas...

Mas por que isto acontece? Decidi então redigir a lógica racional deste negócio. A composição é muito simples. Nem perderei tempo acessando o Código do Consumidor para verificar se estou certo, pois não é uma questão de legislação, é uma questão de lógica.

Temos duas personalidades na operação, o consumidor e o prestador de serviço.

O consumidor está exposto ao risco do serviço não ser corretamente prestado (risco do consumidor). Em contrapartida, o prestador de serviço está exposto ao risco de inadimplência por parte do cliente (risco do fornecedor).

Até aqui tudo certo? Ok, vamos continuar.

O pagamento em pecúnia por parte do consumidor é a remuneração do trabalho realizado pelo prestador de serviço (ativo do fornecedor). Por outro lado, a serviço/produto recebido pelo cliente é a remuneração do dinheiro investido para este fim (ativo do consumidor).

Como está o Balanço no início da operação? Conforme abaixo:

Balanço do Consumidor
Ativo
Passivo
R$ 210,00
R$ 0,00
(caixa)
PL

R$ 210,00
Balanço do Fornecedor
Ativo
Passivo
R$ 210,00
R$ 0,00
(conhecimento + equipamento
PL
para transformar VHS em DVD)
R$ 210,00

No momento da contratação do serviço, os Balanços mudarão.

O consumidor fica com uma dívida de R$210,00 contra o Fornecedor (passivo) e o Fornecedor assume o compromisso (passivo) de entregar o serviço, vejam:

Balanço do Consumidor
Ativo
Passivo
R$ 210,00
-R$ 210,00
(caixa)
(contas a pagar)

PL

R$ 0,00
Balanço do Fornecedor
Ativo
Passivo
R$ 210,00
-R$ 210,00
(contas a receber)
(promessa de entrega DVD)

PL

R$ 0,00

Agora, temos duas opções...

O cliente pode pagar antes de receber o serviço, ou pode pagar apenas após receber o serviço. Imagine um primeiro cenário, em que o cliente opta por pagar pelo serviço de forma adiantada. O cliente continua com o PL zerado, pois haverá uma saída de caixa e o passivo não mais existirá. Por outro lado, veja o que acontece com o Fornecedor:

Balanço do Consumidor
Ativo
Passivo
R$ 0,00
R$ 0,00



PL

R$ 0,00
Balanço do Fornecedor
Ativo
Passivo
R$ 210,00
-R$ 210,00
(caixa)
(promessa de entrega DVD)

PL

R$ 0,00

Perceberam a diferença? Não. Os PLs dos dois ainda estão zerados, então qual a diferença?

Dificultei propositalmente.

Parece não haver modificação no novo Balanço do fornecedor. Provavelmente assim também pensou nosso amigo transformador de VHS para DVD...

Aí que mora o perigo!

Repare que no Balanço anterior, o ativo do fornecedor não era formado por “caixa”. Era apenas um ativo “a receber”. No entanto, com o pagamento adiantado do serviço por parte do cliente, o novo Balanço do fornecedor, apesar de não ocorrer mudança no PL final do ponto de vista “contábil”, é melhor do que o Balanço anterior, pois é muito melhor ter caixa do que ter uma “promessa de caixa”.

Este erro é comumente visto no mercado financeiro, muitas vezes até por profissionais da área.

Os analistas de empresas costumam olhar muito para o Balanço das mesmas. É claro, o Balanço deve ser considerado. Mas não se pode olvidar da análise do fluxo de caixa. Ter um patrimônio líquido (PL) alto não significa solvência. Não ter solvência significa destruição de valor. Uma empresa pode ter um PL de 10 bilhões, sendo 15 bilhões em ativos e 5 bilhões em passivos. Se o ativo de curto prazo for de apenas 200 milhões, e o passivo de curto prazo for de 4,5 bilhões, esta empresa está fadada à falência. Como ela pagará suas dívidas de curto prazo?

Nosso amigo transformador de DVDs infelizmente ignorou este pequeno detalhe. Quem ignora, é ignorante. Não fique ofendido. Eu também sou ignorante, todos nós somos, pois não temos conhecimento infinito e acabamos por ignorar algumas coisas.

O rapaz imaginou estar com a razão e ainda ficou ofendido pela minha falta de confiança em seu trabalho. Meu querido, e o seu Balanço!? Você fica com um Balanço muito melhor do que o meu e ponto final!? Acaba assim? É assim que funciona? Confiança é sinônimo de burrice?

Há 100/200 anos, as pessoas se conheciam mais. Havia o padeiro, o leiteiro. Hoje moro numa cidade com milhões de pessoas e nem conheço a pessoa que mora parede com parede para o meu apartamento.

Por que devo confiar em alguém que não conheço? Quantos pilantras e finórios tive que me deparar em 25 anos de vida para aprender que não é aconselhável dar um voto de confiança grátis para desconhecidos?

Podem me chamar de insensível, não me importo. Muitas vezes ser racional é ser insensível, e ser sensível é ser irracional.

Crédito vem do latim “creditu”, que significa confiança. Dou crédito a quem conheço e confio. Crédito se conquista, assim como a confiança. Você aplicaria R$10.000 num CDB do Banco Piraruíba, aquele desconhecido aí da esquina? Por que não? Nossa, que insensibilidade!!! Por que não aplica na confiança? Com o seu dinheiro você se preocupa, e não posso me preocupar com o meu e já sou chamado de insensível e desconfiado!?

Calma leitor! Não estou falando de você. Estou apenas desabafando, conforme epígrafe.

Voltando agora aos números, veja como seria “lindo” se o mais justo fosse posto em prática. Mesmo sem ainda ter recebido os DVDs, considerando que o fornecedor já realizou um trabalho para confeccioná-los - independente do mesmo ser aprovado ou não -, paga-se um sinal de R$105 (50%):

Balanço do Consumidor
Ativo
Passivo
R$ 105,00
-R$ 105,00
(caixa)
(contas a pagar)

PL

R$ 0,00

Balanço do Fornecedor
Ativo
Passivo
R$ 105,00
-R$ 210,00
(caixa)
(promessa de entrega DVD)
R$ 105,00
PL
(contas a receber)
R$ 0,00

O Balanço do Fornecedor está melhor do que o anterior. No entanto, houve uma contrapartida muito importante: trabalho.

Se o sinal deveria ser de 10%, ou 50%, é outra história. Não vamos entrar agora neste mérito.
Muitos podem argumentar que só devemos pagar pelo serviço após a entrega. Discordo, mesmo que isso acabe me desfavorecendo na qualidade de cliente.

Quando você contrata um serviço, nada mais justo do que adiantar um pró-labore referente ao tempo do prestador de serviço que está sendo gasto com a sua demanda. Veja bem, por que o cliente precisa sempre sair ganhando? Até concordo que o prestador de serviço pode, para conquistar a clientela, aceitar receber pagamentos apenas contra entrega. No entanto, isto não significa que esta é a forma mais correta do ponto de vista econômico.

Acredito que o dispêndio de “joules” por parte do prestador de serviço merece uma remuneração, mas é claro, apenas um pró-labore e não o valor total do serviço, que seria complementado por um tipo de “sucess fee” implícito.

Agora, pergunto eu: Por que esta contrapartida financeira para o fornecedor deverá ser total, ou seja, uma criação de caixa equivalente a R$210, se a contrapartida do cliente ainda não é total (entrega + aprovação do serviço)? Conseguem enxergar o desequilíbrio econômico? Para mim o desequilíbrio é claro, chega a ser ensurdecedor de tão claro.

Mais um argumento para o cliente: se o pagamento é feito em sua totalidade e de forma adiantada, qual a garantia do cliente de que o fornecedor estará motivado a reparar algum problema na ocorrência de qualquer equívoco? Se o fornecedor já atingiu o “auge de seu Balanço”, por que se esforçará para agradar seu cliente? Alguns vendedores vestem a camisa “Cliente em 1º lugar”, mas muitos não pensam desta forma. Tenho certeza que você já se deparou com algum, certo? Então esta motivação não é garantida, mas a motivação financeira sempre funciona (quem gosta de finanças comportamentais vai me contradizer, argumentar que a compensação financeira nem sempre funciona, mas vamos adotar a regra geral, deixemos behavioral finance para outro artigo).

Conclusão da história: ao telefone, “convenci” o transformador de VHS a fazer do meu jeito, ou seja, pagaria 50% de sinal referente ao seu trabalho e mais 50% após conferencia do material. Digo “convenci” entre aspas porque o convenci a fazer do meu jeito, mas isso não significa que o convenci de meus preceitos econômicos.

Quando desliguei o telefone, pensei: “Sabe o que? Não vou criar caso por causa de R$210. Vou pagar logo este troço adiantado e ponto final. Meu nome e meu orgulho valem muito mais do que isso...”. Fiz um DOC NO VALOR TOTAL e mandei o comprovante por e-mail.

Vejam o que o sujeito me respondeu, para minha tremenda satisfação, algum tempo depois (transcrevo exatamente como me foi enviado):

Já recebi o pagamento obrigado!

Fui conferir os DVDs já gravados e, houve uma interferência na gravação que só agora percebi, vou tentar regravar tudo para entregar amanha.

Caso não consiga entrego até segunda feira ou terça de no máximo!

Algumas fitas estão com problemas de tracking, umas que estavam sem caixa numero 3  e a de numero 9 e 18 (caixas arranhadas) que numerei nas fitas !

Caso queira posso estornar o depósito e você refaz quando lhe entregar as fitas na segunda ou terça , caso não consiga até amanhã!

Att

Acho que o “transformador de VHS” transformou também seu modo de pensar.

Pra mim, já valeu o dia.

Obs.: Querido transformador de VHS, se você estiver lendo este artigo, pois coloco o endereço deste blog na minha assinatura de e-mail, não fique zangado. Por favor, me entregue as fitas e DVDs em bom estado! Sei que você é uma pessoa do bem, simplesmente teve dificuldades de entender meu raciocínio. Não fiquei nervoso com o senhor, apenas com a situação. Espero que os DVDs estejam “ok”, e você não terá que estornar nenhum pagamento. Da próxima vez, para que não corra o risco de passar pelo constrangimento de ter que estornar um pagamento feito pelo cliente, siga a minha dica...

Muito obrigado pelo serviço!