O que seria melhor - seja em termos de risco ou em termos de
retorno - investir em bonds diretamente ou através de um mutual fund?
Explico a pergunta.
Supondo duas carteiras idênticas de bonds, a primeira
adquirida diretamente por um investidor em sua conta corrente, e a outra através
da aquisição de shares de um mutual fund. Será que o veículo “fundo” poderia
causar uma subtração no retorno esperado, ou um incremento no risco do
investimento?
Refiro-me a duas carteiras idênticas, e o risco estaria
associado não aos investimentos em si, mas à forma como o instrumento é
estruturado.
Muitos investidores consideram o investimento direto em
bonds mais aconselhável, pois num momento de crise e de aversão a risco (ex.
mutual fund de high yield) ou no caso de uma escalada na taxa de juros, o fund
manager terá que fazer frente aos saques em seu fundo, tendo que vender ativos
a preços mais baixos e realizando o prejuízo na cota (NAV), enquanto que o
investidor que possui bonds diretamente teria a opção de segurar os papéis até
o vencimento e não realizar uma perda de capital. Será este raciocínio correto?
A resposta, num “economês” claro, como de praxe é: DEPENDE.
Realmente existe um consenso no mundo dos planejadores
financeiros de que ter bonds em uma carteira pessoal é menos arriscado. Vide
entrevista abaixo da famosa guru Suze Orman:
http://www.bing.com/videos/watch/video/suze-orman-bonds-yes-bond-funds-no/3xrgp7hq
Por outro lado, do ponto de vista técnico e acadêmico, no
que tange o yield ou o risco em questão, não existirá diferença alguma (a
priori, pois mais a frente exploraremos um pouco mais este assunto) entre
uma carteira individual e um fundo, independente dos resgates que o gestor
do fundo possa enfrentar.
O erro clássico dos investidores individuais e que precisa
ser corrigido, é o costume da não marcação a mercado. O mundo de “não
marcação a mercado” infelizmente não existe. A “Chapeuzinho Vermelho” chega a
ser mais real do que isso...
Supondo uma elevação na taxa de juros, tanto a carteira
individual quanto a carteira de um fundo sofrerá a mesma perda de capital
(mark-to-market). Essa perda de capital é necessária para equilibrar a taxa de
juros no momento da emissão dos bonds com a taxa de juros nos momentos
subsequentes. Quanto menor o valor de mercado do papel, maior será o juros
implícito após sua aquisição, e o mercado se equilibra desta forma. Simples
assim.
O investidor pensará: “Mas eu tenho a opção de não vender o
papel após esta queda no preço, não realizando assim a perda de capital!”.
Desculpe meu querido, você está errado.
Se você decidir vender o papel e realizar esta perda, será compensado por sua nova aquisição, que renderá um cupom maior - nos patamares da nova e mais alta taxa de juros - do que o seu papel anterior. No final das contas, o investidor racional deveria ser INDIFERENTE entre vender o papel atual com cupom mais baixo e comprar uma nova emissão com cupom mais alto (ou outra emissão antiga, mas com o preço também atingido pelo novo patamar de juros) ou segurar o papel até o vencimento.
Desta forma, tudo mais constante, o NAV do fundo cairá na
mesma proporção da carteira individual, e mesmo se houverem resgates no
fundo e o gestor vender as posições com prejuízo, não haverá diferença alguma
no yield esperado do fundo (assim como no yield esperado da carteira
individual), pois de qualquer forma o NAV já está sendo marcado a mercado,
independente dos resgates ocorrerem ou não. O fundo está simplesmente
diminuindo seu AUM e o gestor do fundo ficará um pouco mais pobre (ou menos
rico, olhe o copo como quiser).
O erro do investidor individual é achar que segurar
os papéis até o vencimento é o que garante o seu yield. Entretanto, a partir do momento em que o
investidor consegue entender que o seu yield será sempre igual, seja na venda
dos papéis e aquisição de novos papéis, seja na manutenção dos papéis atuais,
perceberá que a forma como o fundo é estruturado não prejudica o seu
investimento.
Se o investidor racional deveria ser indiferente, por que tantos
preferem manter o papel até o vencimento e não realizar o prejuízo? Behavioral
Finance explica: a sensação de perda de capital no presente é suficientemente
grande para evitar a venda deste papel, ignorando assim o custo de oportunidade
do mercado (vide os famosos axiomas de Zurich, uma aula clássica de behavioral).
De qualquer forma, concordo que muitos preferem manter o papel em carteira para
não incorrer em custos de corretagem.
Se eu parasse por aqui, já seria suficiente. Mas por que não
aproveitar e cutucar um pouco, com uma boa polêmica, aqueles que preferem as
carteiras individuais? E se eu afirmasse que segurar o papel após uma queda
incorreria num aumento de risco da carteira?
Em primeiro lugar, precisamos entender os riscos inerentes à
aquisição de bonds. São muitos, mas vamos focar num dos mais importantes,
conhecido como duration.
Matematicamente, duration é a soma dos valores presentes do
fluxo de caixa de um determinado papel, ponderado pelo período de cada fluxo, e
dividido pelo valor presente do título.
Se você estiver sem saco de fazer a conta, pense ao menos no
racional que está por trás: Você acaba de fazer dois empréstimos diferentes,
para dois devedores com o mesmo risco de default. Se o risco é igual, vamos
supor que a taxa de juros que você está cobrando também é igual, de 10% a.a.,
por exemplo. No entanto, um mutuário lhe
pagará o principal e o juros apenas no final de um ano, e o outro lhe pagará
metade dos juros após 6 meses e a outra metade no final de um ano, junto do
principal.
Qual dos dois empréstimos é o mais arriscado, considerando
que os mutuários possuem o mesmo nível de confiabilidade em relação ao
cumprimento do contrato?
Simples: O empréstimo em que existe um pagamento semestral é
menos arriscado porque o devedor lhe adianta uma parte dos juros antes do outro
devedor. Se o risco de não recebimento se dá por eventos aleatórios que possam ocorrer
na vida dos devedores, então quanto menor o tempo entre a concessão do
empréstimo e o recebimento do dinheiro, menor a probabilidade de um evento
aleatório atrapalhar a vida do devedor, e mais seguro é este empréstimo. Isso
sem falar no custo de oportunidade deste dinheiro no tempo. Time is Money, e
esse dinheiro trabalhará para você, e não para o mutuário, durante 6 meses.
Duration é simplesmente a fórmula matemática criada por
Macaulay para medir este fluxo de caixa ponderando pelo período em que os
recursos serão recebidos pelo investidor. Em termos de bonds, quanto maior a periodicidade
de pagamento de juros do papel, menor será seu duration, e menor será o risco inerente
a este bond. Pronto, está criada uma fórmula de se medir o risco associado a
este investimento.
Em termos práticos, um bond que não paga cupom, terá o seu
prazo confundido com o seu duration. Ora bolas, se não há pagamento de juros
intermediário, apenas no vencimento, então o prazo médio de recebimento nada
mais é do que o prazo do papel. Um bond zero cupom de 2 anos possui o prazo de
2 anos e o seu duration também é de 2 anos.
Já um papel com cupons semestrais, terá um duration necessariamente menor do
que 2 anos, e assim podemos facilmente comparar os riscos.
Melhor do que isso, de brinde, ganhamos outras
interpretações para o duration. Como por exemplo, a “sensibilidade em relação a
uma mudança na taxa de juros”. Se sabemos que os papéis se elevam quando a taxa
de juros cai, e se depreciam quando a taxa de juros sobre, quanto maior o fluxo
de caixa antecipado, menor será a influência de uma mudança na taxa de juros sobre
o preço do papel. Um duration de 4,5 também pode significar que uma elevação de
1% na taxa de juros fará com que o papel perca 4,5% do seu valor de face, por
exemplo. Mas isso é uma estimação, pois
o modelo considera uma curva de juros flat, o que não é necessariamente verdade.
Mas este é outro assunto, que se abordarmos agora esse texto ficará muito mais
longo e não terei tempo de brincar com a minha filha Libbi.
Bom.
Entendido o conceito de duration, volto a afirmar: segurar até
o vencimento um papel que se depreciou devido a uma mudança na taxa de juros
pode causar uma exposição ao risco maior do que trocá-lo por um papel com cupom
maior. Veja a tabela abaixo:
Fluxo de Caixa
|
VP Fluxo de Caixa
|
|||||||||||
N
|
Juros
|
Mercado
|
YTM
|
0
|
1
|
2
|
3
|
4
|
VP1
|
VP2
|
VP3
|
VP4
|
0
|
3%
|
100
|
3%
|
-100
|
3
|
3
|
3
|
103
|
2,91
|
2,83
|
2,75
|
91,51
|
1
|
3%
|
100
|
3%
|
-100
|
3
|
3
|
103
|
2,91
|
2,83
|
94,26
|
||
2
|
4%
|
98
|
4%
|
-98
|
3
|
103
|
2,88
|
95,23
|
||||
3
|
5%
|
98
|
5%
|
-98
|
103
|
98,10
|
||||||
2
|
4%
|
98
|
4%
|
-98
|
3,9
|
101,9
|
3,77
|
94,23
|
No exemplo temos um papel de $100 com cupom de 3% (e a taxa
de juros de mercado também era 3% na emissão, obviamente). Conforme o tempo
passa, vocês verão que no momento 2 (na primeira linha em amarelo) suponho que a
taxa de juros de mercado sobe para 4%. Neste caso, o preço do papel cairá para $98
e o seu novo YTM será necessariamente 4%. Bom, temos agora duas opções:
1.
Segurar o papel até o
vencimento;
2.
Vender o papel e comprar
outro com cupom de 4%;
A opção 1) está retratada no primeiro quadro, até a linha
onde N=3, e coloco a opção 2) retratada na linha em amarelo na parte de baixo,
onde N=2. Vejam que interessante: Se olharmos o VP do fluxo de caixa das duas
opções no N=2, veremos que apesar de sua soma ser igual, ou seja, $98 (que se
confunde obviamente com o preço de mercado do papel), temos no VP3 um valor
maior para quem decidiu vender o papel antigo e comprar um novo.
Ora bolas, um VP3 maior significa uma antecipação de caixa,
o que significa por sua vez uma diminuição do risco (leia duration). Mas por
que isso acontece?
O motivo também é simples: comprar um novo papel com cupom
maior do que o anterior fará com que você receba um fluxo de caixa mais “antecipado”.
No final das contas o YTM será o mesmo, no entanto, o YTM não pode se confundir
com o fluxo de caixa.
Chegamos então à conclusão de que, ceteris paribus, é melhor
antecipar o caixa e não esperar que seu YTM seja composto por um grande
recebimento de capital apenas no vencimento.
Obviamente, em muitos casos, dependendo do montante, essa
diferença pode ser mínima. No entanto, no longo prazo e para montantes maiores,
a diferença pode ser relevante. Certamente os custos de corretagem também devem
ser considerados.
Este ótimo artigo que encontrei no Seeking Alpha explica bem
este conceito em outras palavras: http://seekingalpha.com/article/1050121-are-bonds-funds-riskier-than-bonds-yes-and-here-s-why
Infelizmente li muita coisa na internet que não concordo.
Por exemplo, um artigo no Investopedia (aliás, adoro o site!)
em que diz que você não corre o risco da taxa de juros numa carteira individual
ao segurar o papel até o vencimento. Isso se chama “não marcar a mercado”, o
que é um absurdo para um site tão bom quanto o Investopedia.
Além disso, também escrevem a besteira de que se você segura
o papel até o vencimento isso diminui seu risco de liquidez, pois você não
precisará vender o papel, o que incorreria no risco de liquidez caso o papel
esteja num momento ruim ou seja ilíquido mesmo. Isso é um absurdo, pois o risco
de liquidez é evitado comprando ativos líquidos, e não deixando de vender ativos
ilíquidos. Para um bom entendedor, paro por aqui.
Infelizmente também achei outras porcarias, como neste
artigo:
Vejam o que esse tal Cohen afirma:
“In a risky rate environment, Cohen says that investors
should look to individual bonds. If you buy individual bonds, even at low
interest rates, you will get your money back if the company stays liquid, she
says. With a bond fund, that is not true. Cohen worries that if rates spike or
there's a big default, investors will start selling their bond funds. That will lead to more selling, and fund managers will
need to sell bonds at lower prices to raise cash to pay off departing
investors. During the two weeks ending
November 24, as rates started to rise, investors pulled $6 billion from bond
funds”
Marquei em negrito os erros
principais, e nem preciso explicar o motivo da falha de raciocínio, tudo já
está supra explanado.
Um ponto importante a favor dos fundos é a diversificação.
Vejam como Cohen aconselha seus investidores:
“On the top of her list: Diversify your bond holdings. No issuer should account for more than 3% to 5% of an entire bond portfolio. That means you need a minimum of 20 different issues. Limit holdings of any single industry for corporate bonds, and of any geographic area for municipal bonds, to 15%. Only buy non-callable investment-grade corporate bonds, very safe municipal bonds and Treasuries.”
Querido Cohen, você que é grande defensor de carteiras individuais, como ter 20 papéis diferentes se atualmente o mercado corporativo de bonds opera muitos papéis com mínimos de $100k ou $200k??? Se você estiver lidando com investidores com $40 milhões de dólares disponíveis, tudo bem...
Ao comprar shares de fundos você terá
uma exposição a centenas, para não dizer milhares de empresas. Há
diversificação melhor do que essa? Os fundos famosos como Fidelity e Pimco carregam
400-700 empresas em suas carteiras. Não há discussão, ponto fortíssimo para os
fundos.
) que diz que atualmente você consegue
diversificar muito bem sua carteira individual pois é fácil encontrar papéis
por $1.000 cada. Bom, isso não existe no mercado internacional de bonds. Talvez
no mercado doméstico americano, mas desconheço esse mercado para opinar, e não
acredito que seja a realidade para os investidores brasileiros, ou para aqueles
que querem explorar outros mercados e não ficarem presos ao mercado americano.
Este artigo também fala que existe
uma vantagem incrível de ter carteiras individuais: se os juros caírem você
poderá vender com ganho e botar dinheiro no bolso! Uau! E os managers dos
fundos, cheios de planilhas de Excel e conectados 24h por dia no Bloomberg, por
acaso não fazem isso quando necessário? Não entendi. Desculpe Forbes, você é
muito boa para ranquear os mais poderosos do mundo, mas nessa dica você não
mandou bem.
O ponto principal que deveria ser levantado como favorável à
carteira individual não é a diminuição de risco, e sim a previsibilidade de seu
fluxo de caixa. Isso é bem explicado neste bom artigo do Seeking Alpha: http://seekingalpha.com/article/989621-are-bond-funds-riskier-than-bonds
Na realidade, imagino que todos os defensores de carteiras
individuais, inclusive a guru Suze Orman, estavam se referindo a esta vantagem
de controle do fluxo de caixa. Mas infelizmente escorregaram em suas palavras.
Se você é do tipo de investidor que precisa utilizar os
juros no seu dia-a-dia, ou já se programou para comprar um carro assim que o
bond vencer, então realmente o fundo não será a sua melhor opção. O fundo não
tem data maturação (a maioria, existem poucas exceções) e mesmo que alguns
paguem dividendos, o valor é estimado e não totalmente previsível.
Então é simples: investidor que precisa de um fluxo de caixa
bem definido e previsível, escolha a carteira individual. Investidor que não
precisa de fluxo de caixa, ou mesmo que precise de fluxo de caixa, mas que não
precisa que este fluxo seja previsível, prefira os fundos, que possuem liquidez
diária e o investidor pode resgatar quando quiser e montar o seu fluxo “menos
previsível”.
Com relação a questão de que fundos não possuem maturação,
li um ponto importante a ser lembrado, num artigo bem interessante e completo (http://www.bogleheads.org/wiki/Individual_Bonds_vs_a_Bond_Fund)
Outra interpretação para a afirmação de que “um fundo não
tem data de maturação” pode ser explicada pelo fato de que o fundo possui um
duration constante. Os fundos normalmente são atrelados a alguma proposta
específica de duration, para que o investidor saiba razoavelmente o risco
inerente a este fundo em termos de taxa de juros. Conforme os papeis do fundo
vão vencendo, o fundo necessariamente terá que comprar novos (ou vender os
atuais antes do vencimento) para manter o duration da carteira no nível que ele
está comprometido. Sendo assim, o duration sempre será aproximadamente igual, e
a carteira vai “empurrando” a maturação para sempre.
Levando isso em consideração, uma carteira que mantem seu
duration constante (muitos investidores possuem esta estratégia como forma de
ajuste de seu yield) possui exatamente a mesma característica (e risco) de um
fundo. Ou seja, comparar um fundo com duration constante e uma carteira
individual com duration decrescente é comparar maça com banana.
Ainda sobre a questão do duration, o artigo do site
Bogleheads retrata uma análise acadêmica interessante, onde existe a visualização
contínua de se ter em mãos sempre a opção de comprar um bond zero cupom. Essa análise
facilita o entendimento de por que é melhor comprar shares de fundos e não
bonds diretamente. Resumindo, ele explica que se você possui uma obrigação no
futuro, o único investimento que lhe garante o recebimento do valor esperado é
a aplicação num zero cupom, ou a aplicação em fundos ou bonds que pagam cupons,
mas com o balanceamento constante para que o maturity sempre coincida com o
duration. Vale a pena conferir dentro.
Para concluir o texto, que já está enorme, vou tentar resumir
abaixo as vantagens de se ter uma carteira individual x bonds funds.
Vantagens de se ter um mutual fund:
1)
Diversificação: não
esqueçam que no mercado de crédito é MUITO importante a diversificação, mais do
que a diversificação no mercado de ações, por exemplo. No mercado de ações, a
diversificação também é importante, mas possui um limite, e o investidor
racional também poderia optar por concentrar em busca de um ganho exponencial.
No entanto, no mercado de crédito (salvo o mercado “distressed”), se você se concentrar
em um papel estará sendo irracional, pois não terá um ganho exponencial mas em
contrapartida um risco absurdamente maior. Isso vale para 100 papéis assim como
para 1.000, quanto mais papéis você tiver na carteira, menor o seu risco, e o
yield se manterá (supondo a compra de papéis com um rating específico). No
mercado de ações, estudos dizem que a partir de 8 papéis o efeito da
diversificação já é desprezível. O Rei Salomão também diz isso no Velho Testamento,
mas isso é outra história;
2)
Lastro para linha de
crédito no banco: Para quem gosta de alavancar, os bancos dão lastro de até
70% em cima de mutual funds, enquanto que para papéis de high yield, por
exemplo, o banco não te dará um centavo de dólar;
3)
Reinvestimento dos
cupons: Para quem não precisa utilizar o fluxo de caixa, um grande problema
é o que fazer com esse dinheiro de sobra. Muitas vezes é tão pouco que não é
viável outro investimento, além da inconveniência de se preocupar com isso
constantemente. No fundo esse problema não existe. Isso no longo prazo pode
fazer uma diferença imensa. Conforme citado por Fabozzi no seu Handbook of
Fixed Income Securities, num cenário de taxas de juros altas, os juros sobre os
juros, ou seja, a forma com que você irá investir os juros recebidos, no longo
prazo, pode responder por até 70% do retorno potencial total da carteira. Pense
nisso;
4)
Liquidez: nem todos
os papéis que você deseja comprar possuem liquidez. Em contrapartida o fundo
terá liquidez diária e não deixará de entrar em alguns papéis menos líquidos.
Você ganha o prêmio pela iliquidez de alguns papéis sem pagar por ela. Não
obstante, quando você possui um fundo, o que está contra você é apenas o risco
de mercado (sistêmico). No entanto, se você possui uma carteira individual,
você está exposto ao risco individual de cada companhia. A qualquer momento que
você precisar de liquidez, se as corporações de sua carteira estiverem com
algum problema individual, você sofrerá na venda. No fundo você pode resgatar a
qualquer momento e os problemas individuais de cada companhia não prejudicarão
a sua liquidez. Isto está ligado também ao conceito de diversificação, mas do
ponto de vista da liquidez;
5)
Spread: o mercado de
bonds não é organizado, e suas negociações são do tipo OTC (balcão). Neste
mercado os brokers cobram altos spreads para realizar o serviço de compra e de
venda de bonds. Quanto menor seu tamanho, maior será o spread pago. Um fundo de
15 bilhões de dólares compra 10 milhões de dólares facilmente em uma posição, e
consequentemente o seu spread será menor;
6)
Gestão Profissional:
Obviamente é muito mais indicado você gastar seu tempo em seu negócio do que
pesquisando empresas de cimento na Indonésia. Gestores profissionais fazem isso
por você por um preço banal, e investigam conceitos que você provavelmente nem
sabe que existem. Não só isso, fazem o
monitoramento diário de todos os papéis. Saiu uma notícia do Cruzeiro do Sul ou
do Panamericano eles estarão vendendo na hora o papel. E você? Provavelmente
estará no banheiro ou assistindo o CQC. Ainda mais se você for inteligente o
suficiente para diversificar sua carteira individual com 20 papéis diferentes,
como terá tempo de acompanhar 20 empresas? Isso já é muito trabalho para um
analista que faz isso durante 12 horas todos os dias. Este item inclui também a
decisão de tomar o movimento certo na hora certa, como falamos anteriormente,
muitos investidores acreditam que segurar o papel até o vencimento sempre é a
melhor opção, mas isso pode não ser verdade;
7)
Custos: o custo de
um mutual fund varia de 0,5%-1,5%. Se é caro ou barato, depende de qual é a
proposta do fundo. Quanto maior alpha o fundo gerar, mais direito ele terá de
cobrar por isso. Mas não faltam fundos “beta” com taxas de 0,5%, que para todos
os benefícios do fundo, é irrelevante. Lembre que na carteira individual você
também paga corretagens e spreads altíssimos considerando que seu volume de
negócios é bem menor. No final das contas, pode ser que fiquem elas por elas.
Confesso que o benefício do fundo é tão gigante em relação à carteira
individual que não fico perdendo tempo com estes trocados;
Vantagens de se ter uma carteira individual:
1)
Custos: Pelo menos você
terá a sensação de que não está pagando o salário de um profissional que joga
golfe duas vezes por semana;
2)
Previsão e Controle
sobre o fluxo de caixa: Como falado anteriormente, esta é a grande vantagem
da carteira individual. Por esse motivo, não há resposta certa, cada um é cada
um, e você escolhe o melhor de acordo com suas necessidades;
3)
Risco do Gestor: Se
você compra uma carteira individual, teoricamente terá controle sobre o que
está fazendo. Você não pode ter controle sobre o que um gestor de fundos fará.
No entanto, esta desvantagem, em minha opinião, pode ser diminuída ao comprar
gestores com um bom track-record, e sempre comprar alguns fundos e não apenas
um;
Observação:
Qualquer análise de benefícios de impostos está sendo
desconsiderada neste texto, pois estamos supondo um investidor que possua estrutura
offshore, seja fundo de investimento, seja companhia, e neste caso o imposto é
postergado seja no caso de fundo, seja no caso de carteira individual.
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