domingo, 4 de setembro de 2011

Ser Feliz ou Ser Produtivo?


Estou justo terminando de ler a obra prima do economista Eduardo Giannetti, “O Valor do Amanhã”. Quase um clássico como Harry Potter.... Impressionante!

No capítulo onde fala sobre hipermetropia, ou seja, a característica humana de superestimar o futuro em relação ao presente, fazendo referência às pessoas que de forma desproporcional se preocupam com o futuro e passam anos acumulando riquezas ou possuindo hábitos saudáveis em excesso.

Giannetti argumenta que estas pessoas freqüentemente sofrem de infelicidade, pois se esquecem de desfrutar da vida. A preocupação com o “amanhã”, apesar de ser importante em nosso planejamento de vida, por si só não nos traz o deleite e às vezes até nos causa muito stress.

Teoricamente, os denominados “religiosos” também “pecam” neste freqüente erro ao dar tamanha importância ao mundo vindouro (Giannetti cita inclusive, neste trecho, os ortodoxos). Os religiosos possuem um alto grau de hipermetropia, e esquecem de desfrutar da vida material, além da constante preocupação com eventuais castigos e julgamentos do futuro.

Confesso ter ficado um pouco perplexo, sendo um judeu ortodoxo, em como responder a esse argumento. Mesmo tendo a fé nos robustos juros que estarão, se D´s quiser, a minha espera no Olam Abá (mundo vindouro), será que não estou comprometendo demais minha felicidade ao ter esta constante preocupação a cada passo dado?

Até que a resposta me veio, através de um pequeno, mas sábio discurso que escutei na Sinagoga, por coincidência no mesmo Shabat em que lia Giannette. O discurso abordava a famosa história em que sábios do Talmud discutiam a respeito da frase mais importante de toda a Torá, e dentre frases importantes como “Shemah Israel” ou “Amarás o próximo como a ti mesmo” a escolhida é a que cita o Korban Tamid. “Korban Tamid” era um sacrifício feito à época do Templo Sagrado de Jerusalém, trazido todos os dias, sem exceção, durante todo o ano.

O que nossos sábios quiseram ensinar ao escolher justo este versículo dentre diversas frases categóricas da Torá é a importância da “constância”, característica intrínseca ao sacrifício “Tamid” – que significa “sempre” em hebraico.

A sabedoria judaica cada vez me deixa mais boquiaberto.

A constância é o segredo da vida, e isso nossos sabidos já alertaram há mais de 2000 anos.

Explico: alguém que não possui o maravilhoso costume de ler, certamente, ao pegar um livro, será tomado por um pesar no lugar de gozo. Já aquele que praticou a leitura, com esforço e constância, conhecerá o deleite que é ler um livro.

Diferente do que argumenta Giannette, estar constantemente preocupado em ser produtivo e previdente não é necessariamente sinônimo de tristeza ou stress. Se esta “constância” lhe deixa triste, pesado ou estressado, é porque ainda não foi constante o suficiente.

Além disso, o Judaísmo ensina que, mesmo naqueles momentos de puro prazer, como uma refeição festiva, ou uma partida de futebol, devemos aproveitá-los como um instante produtivo, de serviço à D´s. Isso é feito através de segundos de reflexão.

Não há como resistir à hipermetropia se olharmos o infinito e comparamos com os nossos míseros 120 anos de vida.

Aproveite cada segundo de sua vida. Seja produtivo. Mas faça com que cada segundo de sua vida também seja feliz.

Mas este segredo só descobre quem insiste. Você já tentou?

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